quinta-feira, 30 de janeiro de 2020




Se eu quisesse, enlouquecia.
Sei uma quantidade de histórias terríveis.
Vi muita coisa, contaram-me casos extraordinários, eu próprio...


Herberto Hélder





terça-feira, 28 de janeiro de 2020





Aparentes senhores de um barco abandonado,
nós olhamos, sem ver, a longínqua miragem…
Aonde iremos ter? — Com frutos e pecado,
se justifica, enflora, a secreta viagem!


David Mourão-Ferreira




segunda-feira, 27 de janeiro de 2020




... e deixar que o tempo fique
parado entre duas janelas, a poente
e a nascente, até que o fio se volte
a desenrolar, e tudo
recomece.


Nuno Júdice




quinta-feira, 23 de janeiro de 2020



Olho para tudo isto em silêncio,
com o recolhimento de uma alma de artista,
que assiste a um dos mais opulentos espectáculos
que um coração delicado e exigente
poderia pedir aos céus, à terra e aos mares,
e curve-se diante desta natureza
que lhe oferece terras tão deslumbrantes.

Visconde do Ervedal da Beira




quarta-feira, 22 de janeiro de 2020



Eram pastos paulatinos
E neles vacas sineiras
espreitando em relvas figueiras
um viço cheio de sinos


Natália Correia







quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020




Vais dizer que não é verdade, mas às vezes parece
que o mundo se detém. Que pára de girar e,
nosso amigo e como para avisar-nos,
prolonga-nos esse momento para sempre.


Kirmen Uribe




quarta-feira, 8 de janeiro de 2020




No silêncio do escuro sobe um murmúrio,

ouvem-se vozes e risos ao longe;
ao rumor junta-se uma cor inútil,
de sol, de margens, de claros olhares.
Um verão de vozes. Em cada rosto,
como um fruto maduro, um sabor antigo.

Cesare Pavese



terça-feira, 7 de janeiro de 2020

domingo, 5 de janeiro de 2020




Brilhas tão pouco
que mal consigo...
captar teu lume
num breve segundo
de lucidez,
que presto deslumbra
e também desmaia
como luz perdida
no fim da noite.



Pedro Nava




sexta-feira, 3 de janeiro de 2020



Não importa que ardesse
quanto tivemos, não importa
este rasto de ruínas
que o tempo nos vai deixando à passagem;
nem importa já sequer que o mundo em volta
seja um largo campo de derrotas.

São tuas mãos a casa; teus olhos, o desvão
onde crescemos esperando-nos;
e teus lábios a página
onde se escuta o ruído
da infância, a voz dos saguões
e o rumor dos pátios.


Pedro A. González Moreno




quinta-feira, 2 de janeiro de 2020




Aqui, sobre este chão
onde aprendemos o nome das coisas,
faremos um altar e, todas as tardes,
com as últimas febres
do trigo e com os ocres
cansados destes cerros, ergueremos
uma casa feita apenas
da matéria frágil dos nomes.
E nas paredes tatuaremos
a pele da nossa sombra.


Pedro A. González Moreno