sexta-feira, 29 de novembro de 2019




Mas o arado perpetua-se em mim.
De facto, em horas de arriscada exaltação,
gosto de pensar nestes versos como sendo
um arado com que rasgo outras terras
mais voláteis e menos aráveis,
e nelas julgo deixar alguma semente.


A. M. Pires Cabral




quinta-feira, 28 de novembro de 2019



Para lá das manhãs frias, nas planícies áridas
(...)
A humanidade vestindo sonhos rezava...


Manuel da Fonseca




domingo, 24 de novembro de 2019





Silêncio que se derrama
pela terra escalavrada
e chega no horizonte
suando nuvens de sangue.
Era hora do poente.
Quase noite e quase dia.

Manuel da Fonseca




sexta-feira, 22 de novembro de 2019




Indiferente a tanta luz,
tantos e tão mutuamente desmentidos
farrapos de cor a adejar pelas encostas,
tanto tráfego de cestos e tesouras,
tantos risos, ordens, recriminações,
tanto cheiro a mosto, estevas e suor

– o rio segue vagaroso o seu destino.

Que não é, como se sabe, perder tempo
a namorar as margens.


A.M. Pires Cabral




domingo, 17 de novembro de 2019

sábado, 16 de novembro de 2019



Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.


Sophia de Mello Breyner Andresen









quinta-feira, 14 de novembro de 2019



Eu, simplesmente, digo
Que há fantasia
Neste dia,

Que o mundo me parece
Vestido por ciganas adivinhas,
E que gosto de o ver, e me apetece
Ter folhas, como as vinhas.

Miguel Torga




segunda-feira, 11 de novembro de 2019




Tão longe, meu amor, tão longe,
quem de tão longe alguma vez regressa?!

E quem, ó minha imagem, foi contigo?

(De mim a ti, a mim,
quem de tão longe alguma vez regressa?)



Jorge de Sena







domingo, 10 de novembro de 2019

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

domingo, 3 de novembro de 2019



Chegam as sombras
e o jardim apaga-se num instante.
As folhas imóveis nos ramos
mergulham na estranha quietude
dos troncos adormecidos, no súbito 
silêncio das aves. Tinge o ar
a cor da despedida, nada soa
nem estremece, nem ondula, tudo bóia
na bruma estancada do ocaso.
Não há luz nas janelas, nem uma voz
que trespasse a grávida penumbra.
Há figuras que avançam e se perdem
na névoa. Há mortos que caminham.

Susana Benet