sábado, 26 de setembro de 2020


 

e quando eu me levanto
para dar dois passos,
vendo as minhas pegadas
marcadas na areia,
penso que elas mentem,
que eu já não piso assim
sei lá desde quando;
são pegadas de outro
que sobrevive no meu pisado,
muito menos eloquente.
Tu, em troca, que me vês
inteiro, indivisível,
sabes melhor que ninguém como eu sou mortal,
como minhas pegadas na areia me descrevem
e como aquilo que eu sou se plasma nelas,
sabes melhor que ninguém como não me escutar.


Fabio Morábito






terça-feira, 22 de setembro de 2020