terça-feira, 31 de janeiro de 2017





Estou nu diante da água imóvel.
Deixei minha roupa no silêncio dos últimos ramos.

Isto era o destino:

chegar à margem e ter medo da quietude da água.



Antonio Gamoneda
Livro do Frio




domingo, 29 de janeiro de 2017






Eu sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.


Vinicius de Moraes, A porta




sexta-feira, 27 de janeiro de 2017






...E a vida está mais cheia de tão vazia...


Carlos Maria Trindade, Luz rosa poente





quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017






...a contradição,
esse ninho de pássaros ruidosos.

Parece que não se suportam, as contradições,

neste mundo nosso.
Mas tentamos
fugir-lhes
como os pássaros,
fugir, ficando.


Ángeles Mora, Contradições









terça-feira, 24 de janeiro de 2017





...tudo pronto para que a luz estremeça:
o terror da beleza, isso, o terror da beleza delicadíssima...

Herberto Helder




segunda-feira, 23 de janeiro de 2017




Agora vem
esta paz
como se fosse
uma visita há muito esperada.

Olho para ela,
ela para mim,
podíamos ficar assim
muitos anos.

Agora
a casa deixa-me
pôr sempre flores
para armar a alegria.

Aprendemos já a não sonhar a sede.

Por sorte,
lá fora,
outros são os que esperam
que um dia
lhes aconteça.


Valeria Pariso, Agora vem




domingo, 22 de janeiro de 2017






Seria preciso ter uma alegria de pássaro para com as migalhas da vida
e a mágoa de não ser um pássaro a contentar-se com elas...


Jorge de Sena





terça-feira, 17 de janeiro de 2017






Porque somos como as árvores, presos a um lugar, respirando através de uma lei calma e perene.


Herberto Helder





segunda-feira, 16 de janeiro de 2017





A poesia nunca conta histórias. Oferece uma série de imagens, Representando-as na minha memória, apoderando-me do seu código, posso aceder ao seu mistério. 

Abbas Kiarostami, in Duas ou três coisas que sei de mim 





terça-feira, 10 de janeiro de 2017





                                               Tenho milhas a percorrer antes de dormir.
                                                 E não abandonar os poetas nos parques.

                                                                          Afonso Cruz






quinta-feira, 5 de janeiro de 2017






Faz uma chave, mesmo pequena,
entra na casa.
Consente na doçura, tem dó
da matéria dos sonhos e das aves.
 
Invoca o fogo, a claridade, a música
dos flancos.
Não digas pedra, diz janela.
Não sejas como a sombra.
 
Diz homem, diz criança, diz estrela.
Repete as sílabas
onde a luz é feliz e se demora.
 
Volta a dizer: homemmulhercriança.
Onde a beleza é mais nova.
 

Eugénio de Andrade




quarta-feira, 4 de janeiro de 2017






Perdi meus fantásticos castelos 

Como névoa distante que se esfuma... 

Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los: 

Quebrei as minhas lanças uma a uma!...


Florbela Espanca, Perdi os meus fantásticos castelos
in A mensageira das violetas