Estou aqui para te amar, para te segurar nos meus braços, para te proteger. Estou aqui para aprender contigo e para receber o teu amor em troca. Estou aqui porque não existe outro sítio onde possa estar.
(As palavras que nunca te direi)
sábado, 24 de junho de 2017
Não pretendo elevar-me aos teus calcanhares. Apenas procuro o teu regaço.
Dorme bem.
quinta-feira, 22 de junho de 2017
Segue o corpo
Dá-lhe pousio e esgotamento.
João Almeida
Nas paredes devolutas, encontraste pássaros,
grinaldas frias, versos sem dono
nem sentido. Perto, ou muito longe,
três velas teimavam em iluminar-te os passos.
O cravo, azul, veio ao nosso desencontro.
Mas era de papel, embora rubro;
não nos podia salvar de sermos nós.
A festa, a única que me interessa, é o teu nome.
Manuel de Freitas
E de súbito desaba o silêncio.
É um silêncio sem ti,
sem álamos,
sem luas.
Só nas minhas mãos
ouço a música das tuas.
Eugénio de Andrade, Sem ti
Ninguém chama por mim
Nem chamo por ninguém.
Instante calmo e triste...
Como a vida está longe!
Luís Amaro
Vago sabor de outono
E de coisas extintas.
Nem desejos nem dor...
Meu coração esquece.
Luis Amaro
terça-feira, 20 de junho de 2017
... E depois do Adeus...
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
Chico Buarque
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Chico Buarque
segunda-feira, 19 de junho de 2017
Que faísca fugiu do teu olhar
Ruy Belo
Se um dia sem remédio
ou uma noite por acaso
tropeçarmos um no outro,
vou-me fazer selvagem
e às dentadas hei-de
morder-te por todo o lado.
Que ávido animal de mim fizeste!
Javier Lasheras
Em silêncio após vários dias, continuamos.
E ainda hoje continuamos.
Nuno Moura
domingo, 18 de junho de 2017
Sempre vivi num reduto, sempre fui uma míngua de terra encostada a um muro. Mas o reduto estreita-se, o muro já mal me deixa mover nesse espaço exíguo que foi quanto me habituei a esperar da vida e era, visto de agora, um lugar feliz, uma cara onde o sorriso cabia.
Jorge Roque
E peço ao vento: traz do espaço a luz inocente
das urzes, um silêncio, uma palavra;
traz da montanha um pássaro de resina, uma lua
vermelha.
Herberto Helder
sábado, 17 de junho de 2017
passo o dia a florir os campos para ti
Al Berto
Tudo para os olhos.
E nos olhos um ritmo,
uma cor fugitiva,
a sombra duma forma,
um repentino vento
e um naufrágio infinito.
Octavio Paz
(desejo-vos uma fresca tarde)
sexta-feira, 16 de junho de 2017
O amor é um pássaro cego que nunca se perde no seu voo.
Casimiro de Brito
quinta-feira, 15 de junho de 2017
Eu amo as árvores principalmentes as que dão pássaros.
Ruy Belo
quarta-feira, 14 de junho de 2017
Nem sempre me incendeiam o acordar das ervas e a estrela
despenhada de sua órbita viva.
- Porém, tu sempre me incendeias.
Herberto Helder
segunda-feira, 12 de junho de 2017
Sentada esperava-te
na pedra de sempre.
À margem do tempo
escrevia meus versos no chão
enquanto o vale entardecia
e a linha da sombra
subia devagar
pela outra encosta.
Imóvel desfolhava a solitária flor do desalento.
Virá, não virá.
Quando as sombras atingirem a casa,
quando o último raio acariciar o cume...
E tu sempre voltavas,
os bolsos cheios de calor,
ao chegar o tempo frio.
Irene Sánchez Carrón, Borboletas no estômago
domingo, 11 de junho de 2017
Sentavas-te junto à esteira
e acendias os cabelos numa lágrima.
Em silêncio ias moldando entre os dedos
luas muito cheias que depois me ofertavas,
dizendo, abre no meu rosto
um poema a pique por onde a luz se despenhe.
Só tu conhecias a inclinação certa do cachimbo,
a púrpura linguagem do fumo,
a revelada cadência dos sonhos.
E eu amava-te pela maneira como os barcos
sangravam nos teus lábios.
Jorge Melícias, Iniciação ao remorso.
A vida é isso que estas a ver:
Hoje sorris,
Amanhã não sorris,
E segunda-feira ninguém sabe o que será.
Carlos Drummond de Andrade.
Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,
e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,
quando azuis irrompem
os teus olhos
e procuram
nos meus navegação segura,
é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,
pelo silêncio fascinadas.
Eugénio de Andrade, Obscuro Domínio.
Noites e dias
e uma noite em que cabem
todos os dias.
José Luís García Martín
sexta-feira, 9 de junho de 2017
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.
Natália Correia
Deito-me tarde
Espero por uma espécie de silêncio
Que nunca chega cedo
Espero a atenção a concentração da hora tardia
Ardente e nua
É então que os espelhos acendem o seu segundo brilho
É então que se vê o desenho do vazio
É então que se vê subitamente
A nossa própria mão poisada sobre a mesa
É então que se vê passar o silêncio
Navegação antiquíssima e solene
Sophia de Mello Breyner Andresen, Espera
in Geografia
saiu para a rua.embrenhou-se na espessura da noite, amou e traiu, seduziu e deixou-se seduzir, morreu um pouco todas as manhãs e nunca mais regressou ao que tinha sido.