É preciso que eu suporte duas ou três lagartas se eu quiser conhecer as borboletas...
Antoine de Saint-Exupéry, in O Pequeno Príncipe
segunda-feira, 27 de março de 2017
Bem sei que a noite é imóvel na tua face
E não te peço alegria. Mas tu ardes. "
Hilda Hilst, Exercícios
domingo, 26 de março de 2017
...o medo que eu tive
e já não tenho porque semeei uma casa,
esta que explode agora de gerúndios em flor.
Batania
sábado, 25 de março de 2017
... amo os grandes rios,
pois são profundos como a alma de um homem.
Na superfície são muito vivazes e claros,
mas nas profundezas são tranquilos
e escuros como o sofrimento dos homens.
Guimarães Rosa
quarta-feira, 22 de março de 2017
O amor que move o sol e as outras estrelas
Dante Alighieri
terça-feira, 21 de março de 2017
— A manhã começa a colocar o poema na parte
mais límpida da vida. E o povo canta-o
enquanto crescem os campos levantados
ao cume das seivas.
A manhã começa a dispersar o poema na luz incontida
do mundo.
Herberto Helder, O Poema
in poesia toda
segunda-feira, 20 de março de 2017
Antes de recorrer ao meu caminho
eu era o caminho
Antonio Porchia
quinta-feira, 16 de março de 2017
Lembro-me que, quando estava em casa
da minha mãe, no meio da planície,
havia uma janela que olhava
para os campos; ao fundo, a linha do bosque
ocultava o Ticino e, mais ao longe,
havia uma tira escura de colinas.
Eu não vira o mar então senão
uma vez, mas tinha-lhe uma áspera
saudade de enamorada.
Para a noite, fitava o horizonte,
cerrava um pouco os olhos, afagava
as cores e contornos por entre os cílios.
E a linha do relevo aplainava-se,
azul, trémula – para mim era o mar
e agradava-me mais que o mar verdadeiro.
Antonia Pozzi, Amor da lonjura
quarta-feira, 15 de março de 2017
estende-te sobre o meu braço
oh meu ramo de lírios
só a mim, a mim só pertence
este mundo azul e liso
sobre o mar dos teus olhos
o amor é a barca de Ys
guiam-me as estrelas
para a luz de ouro
de um esplêndido universo
engrandecido pela aurora
entre teus seios altas paragens
sigo a alegria do corpo
no rio das tempestades
estende-te, corre nelas
boca a boca
fogo sobre fogo
oh tu, meu vinho sem juízo
oh espírito amoroso
e depois, quando imersos
desta viagem embriagada,
eis-nos imutáveis.
nossos fogos têm mais raiva
nosso espírito surpreso
de desejos e confidências
kamâl fawsi al-sharâbi, A viagem vermelha
Há uma erva cujo nome não se sabe; assim foi a
minha vida.
Antonio Gamoneda, Ainda
terça-feira, 14 de março de 2017
Tudo para os olhos.
E nos olhos um ritmo,
uma cor fugitiva,
a sombra duma forma,
um repentino vento
e um naufrágio infinito.
Octavio Paz
segunda-feira, 13 de março de 2017
quando um pássaro sai dos olhos da mulher
é porque ela é de longe e não da nossa beira
Ruy Belo
Como quem escreve com sentimentos
sábado, 11 de março de 2017
A minha vida é hoje um sítio de silêncio
Ruy Belo
quarta-feira, 8 de março de 2017
A mulher é uma história eterna.
Nikos Kazantzaki
terça-feira, 7 de março de 2017
Colhe
todo o oiro do dia
na haste mais alta
da melancolia.
Eugénio de Andrade, Despedida
segunda-feira, 6 de março de 2017
Vem dos lados do rio, as mãos fresquíssimas,
algumas gotas de água ainda nos cabelos.
Com a manhã chega o anónimo respirar do mundo.
Um cheiro a pão fresco invade o pátio todo.
Vem dos lados do rio:
para levar à boca, ou ao poema.
Eugénio de Andrade, Com a Manhã
domingo, 5 de março de 2017
Onde a sombra de ti, o meu perfil É linha de certeza. Aí são convergentes As vagas circulares, no seu limite O ponto rigoroso se propaga. Aí se reproduz a voz inicial, A palavra solar, o laço da raiz. Nasce de nós o tempo, e, criadores, Pela força do perfil coincidente, Amanhecemos deuses de mãos dadas.
José Saramago, Onde a sombra de ti, in Finalmente Alegria