sábado, 15 de abril de 2017



Sou um homem do Inverno 
Gosto da neblina da atmosfera pardacenta 
da luz baça do dia
 Gosto das temperaturas do frio 
do vento cortante 
Até da chuva e de submergir
os pés nas poças de água
 Gosto do calor
que a noite pede – um copo de vinho partilhado 
uma manta à lareira da conversa
um metermo-nos na cama corpo a corpo
nus como se fossemos jovens
O Inverno é triste
 mas tem uma maneira doce de ficar 
E inventou a Primavera
Gosto da Primavera nas flores 
na erva rasteira tão verdinha 
Nas pedras grávidas de sol 
nas migrações das aves 
Sou um homem do Inverno
 porque em nenhum outro ciclo
 a terra está tão presente 
Molhada da chuva
exala um cheiro que nos invade
 vai ao mais fundo de nós 
Transforma-nos
O Inverno é o cinzelador do tempo
 o mediador entre a morte e a vida
Ai Inverno não demores a vir

Mário Contumélias, Inverno

in Sobre pequenas coisas





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