Escrevo nas nuvens.
Tenho um caderno sempre aberto numa nuvem,
e nele escrevo. É nuvem, não papel.
Mas as palavras são de terra. Escrevo terra,
mesmo escrevendo nas nuvens.
Só às palavras-terra me aferro.
Outras sei que são só som:
são ar. E há também as pura tinta
descarnada. Que são água.
A água é boa e o ar é bom.
A carne é terra: também soa,
também sobe às nuvens, certo,
e arde como a chama mais impura.
Porém é terra. E só palavras-terra
me aterram.
Paulo Henriques Britto
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