A imensidade vazia das coisas, o grande esquecimento que há no céu e na terra...
Fernando Pessoa, in Livro do desassossego
domingo, 28 de janeiro de 2018
O amor é tão monótono, querida. Porque ele é o cimo sensível de uma imensidade de coisas que se esqueceram. Como falar desse mínimo que é o vértice de todo um mundo que o sustenta? Falar de nada, que é o todo nele? Sandra. Podia dizer o teu nome infinitamente na multiplicação do que nele me ressoa. E é assim o que mais me apetece, dizê-lo dizê-lo. E ouvir nele o maravilhoso que me abala todo o ser. Poderia escrever o teu nome ao longo do que escrevo e teria talvez dito tudo. Mas eu quero desse tudo dizer também o que aí se oculta. Dizer o meu enlevo e a razão de ele me existir. As tuas mãos nas minhas. O incrível miraculoso de eu dizer o teu rosto. O ardor de um meu dedo na tua pele. Na tua boca. O terrível dos meus dedos nos teus cabelos. O prazer horrível até à morte da minha entrada no teu corpo.
Vergílio Ferreira, Para Sempre
(Por ocasião do seu aniversário, ele que escreveu: "Da minha língua vê-se o mar")
sábado, 27 de janeiro de 2018
Dizes que é absurdo o universo,
que a vida não tem sentido.
Mas não é um sentido o que eu busco,
uma explicação, uma promessa,
é o estar aqui e à deriva:
uma simples garrafa na praia
à espera da maré.
Sim, a palavra justa é abandono,
uma doce renúncia que me designa
dono e senhor no fim da minha estrada.
Os afãs do mundo
que fiquem para outros e meu mundo seja
a magia desta casa
tomada pela penumbra em seu sossego,
o saber que ninguém virá
interromper minha tarde,
que não haverá sobressalto,
nem vozes, nem horas fixas,
porque é só deixar correr,
agora, a minha grande tarefa.
Vicente Gallego
quinta-feira, 25 de janeiro de 2018
De palavra em palavra
a noite sobe
aos ramos mais altos
e canta
o êxtase do dia.
Eugénio de Andrade
quarta-feira, 24 de janeiro de 2018
Qualquer caminho leva a toda a parte.
(...)
Ir é ser.
Fernando Pessoa
terça-feira, 23 de janeiro de 2018
Vou guardar as tuas mãos na paixão que tenho por ti,
mas não te posso revelar o meu nome, nem precisas de o saber.
Chama-me o que quiseres, dá-me um nome para que possamos amarmo-nos.
Aquele que tinha perdi-o no caminho até aqui.
Pertencia a outra paixão, e já a esqueci.
Dá-me tu um nome para eu poder ficar contigo.
Al Berto
domingo, 21 de janeiro de 2018
É um cliché dizer-se que a vida é uma montanha. Sobe-se, alcança-se o topo e depois desce-se. Para mim, a vida é a subir até se ser queimado pelas chamas. A vida é uma realização e cada momento tem um significado que deve ser tomado. A vida é-nos dada como um pedaço de terra com tudo por fazer. Espero que, quando eu terminar, o meu pedaço de terra seja um lindo jardim. Assim, há muito por fazer.