segunda-feira, 16 de outubro de 2017



São noites de insones as noites 
de incêndio.
Mais próxima a morte e
a vida, mais violenta nesta espera
nocturna que acende o desejo e descobre
promessas,
certezas que passam 
ardendo.
Solta-se o fogo no ar como um ar de festa
ou de batalha, de coisa que num instante
acontecem e logo a seguir não são nada.
Em poucas horas deixamos
para trás aquilo que fomos,
ficando no ar 
como que um ar de urgência,
de gestos aprendidos há pouco
e muito depressa esquecidos.
Ninguém dorme nunca
nas noites de incêndio.
Como amante impaciente,
a chama que cresce na noite
devora a mesma noite, 
lembrando-nos aquilo em que nos fomos
convertendo, fumo apenas.
E cinza.

Berta Piñán,
in Noites de incêndio




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