Construí uma casa no mar.
Com portal para o vento e um terraço onde
escuto o grito do albatroz ou recolho
o pólen das estrelas.
Plantei nas ondas uma árvore. São peixes
as pequeníssimas folhas desta árvore
que sinto crescer como um amigo.
Todos os móveis da casa são de água. Densa,
vermelha, filha de um vulcão,
ou leve, clara, irmã do linho.
Os tapetes têm a cor de antigos versos
que elogiam o mar.
Canções, odes, barcarolas. De um tempo
em que o sol emprenhava as corças
numa cama de folhas
e onde agora é deserto.
Nesta casa de água, escrevo.
E, para o teu poema, lanço a minha rede.
Nela vêm, doirados, ofegantes, vivos,
os cardumes de sílabas.
Joaquim Pessoa, Poema 22
in
Antologia de GUARDAR O FOGO
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