...é parecida contigo, solidão, sejas lá tu quem fores...
Adolfo Cueto, Aluimento
quarta-feira, 25 de janeiro de 2017
...a contradição,
esse ninho de pássaros ruidosos.
Parece que não se suportam, as contradições,
neste mundo nosso.
Mas tentamos
fugir-lhes
como os pássaros,
fugir, ficando.
Ángeles Mora, Contradições
terça-feira, 24 de janeiro de 2017
...tudo pronto para que a luz estremeça:
o terror da beleza, isso, o terror da beleza delicadíssima...
Herberto Helder
segunda-feira, 23 de janeiro de 2017
Agora vem
esta paz
como se fosse
uma visita há muito esperada.
Olho para ela,
ela para mim,
podíamos ficar assim
muitos anos.
Agora
a casa deixa-me
pôr sempre flores
para armar a alegria.
Aprendemos já a não sonhar a sede.
Por sorte,
lá fora,
outros são os que esperam
que um dia
lhes aconteça.
Valeria Pariso, Agora vem
domingo, 22 de janeiro de 2017
Seria preciso ter uma alegria de pássaro para com as migalhas da vida
e a mágoa de não ser um pássaro a contentar-se com elas...
Jorge de Sena
terça-feira, 17 de janeiro de 2017
Porque somos como as árvores, presos a um lugar, respirando através de uma lei calma e perene.
Herberto Helder
segunda-feira, 16 de janeiro de 2017
A poesia nunca conta histórias. Oferece uma série de imagens, Representando-as na minha memória, apoderando-me do seu código, posso aceder ao seu mistério.
Abbas Kiarostami, in Duas ou três coisas que sei de mim
terça-feira, 10 de janeiro de 2017
Tenho milhas a percorrer antes de dormir. E não abandonar os poetas nos parques. Afonso Cruz
quinta-feira, 5 de janeiro de 2017
Faz uma chave, mesmo pequena, entra na casa. Consente na doçura, tem dó da matéria dos sonhos e das aves. Invoca o fogo, a claridade, a música dos flancos. Não digas pedra, diz janela. Não sejas como a sombra. Diz homem, diz criança, diz estrela. Repete as sílabas onde a luz é feliz e se demora. Volta a dizer: homem, mulher, criança. Onde a beleza é mais nova.
Eugénio de Andrade
quarta-feira, 4 de janeiro de 2017
Perdi meus fantásticos castelos
Como névoa distante que se esfuma...
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los:
Quebrei as minhas lanças uma a uma!...
Florbela Espanca, Perdi os meus fantásticos castelos